Mensagem do Papa Francisco para a Quaresma 2015
«Onde está o teu irmão?» (Gn 4, 9):
As paróquias e as comunidades
Tudo o que se disse a propósito da
Igreja universal é necessário agora traduzi-lo na vida das paróquias e
comunidades. Nestas realidades eclesiais, consegue-se porventura experimentar
que fazemos parte de um único corpo? Um corpo que, simultaneamente, recebe e
partilha aquilo que Deus nos quer dar? Um corpo que conhece e cuida dos seus
membros mais frágeis, pobres e pequeninos? Ou refugiamo-nos num amor universal
pronto a comprometer-se lá longe no mundo, mas que esquece o Lázaro sentado à
sua porta fechada (cf. Lc 16, 19-31)?
Para receber e fazer frutificar
plenamente aquilo que Deus nos dá, deve-se ultrapassar as fronteiras da Igreja
visível em duas direcções.
Em primeiro lugar, unindo-nos à
Igreja do Céu na oração. Quando a Igreja terrena reza, instaura-se
reciprocamente uma comunhão de serviços e bens que chega até à presença de
Deus. Juntamente com os Santos, que encontraram a sua plenitude em Deus,
fazemos parte daquela comunhão onde a indiferença é vencida pelo amor. A Igreja
do Céu não é triunfante, porque deixou para trás as tribulações do mundo e
usufrui sozinha do gozo eterno; antes pelo contrário, pois aos Santos é
concedido já contemplar e rejubilar com o facto de terem vencido
definitivamente a indiferença, a dureza de coração e o ódio, graças à morte e
ressurreição de Jesus. E, enquanto esta vitória do amor não impregnar todo o
mundo, os Santos caminham connosco, que ainda somos peregrinos. Convicta de que
a alegria no Céu pela vitória do amor crucificado não é plena enquanto houver,
na terra, um só homem que sofra e gema, escrevia Santa Teresa de Lisieux,
doutora da Igreja: «Muito espero não ficar inactiva no Céu; o meu desejo é
continuar a trabalhar pela Igreja e pelas almas» (Carta 254, de 14 de Julho de
1897).
Também nós participamos dos méritos
e da alegria dos Santos e eles tomam parte na nossa luta e no nosso desejo de
paz e reconciliação. Para nós, a sua alegria pela vitória de Cristo
ressuscitado é origem de força para superar tantas formas de indiferença e
dureza de coração.
Em segundo lugar, cada comunidade
cristã é chamada a atravessar o limiar que a põe em relação com a sociedade
circundante, com os pobres e com os incrédulos. A Igreja é, por sua natureza,
missionária, não fechada em si mesma, mas enviada a todos os homens.
Esta missão é o paciente testemunho
d’Aquele que quer conduzir ao Pai toda a realidade e todo o homem. A missão é
aquilo que o amor não pode calar. A Igreja segue Jesus Cristo pela estrada que
a conduz a cada homem, até aos confins da terra (cf. Act 1, 8). Assim podemos
ver, no nosso próximo, o irmão e a irmã pelos quais Cristo morreu e
ressuscitou. Tudo aquilo que recebemos, recebemo-lo também para eles. E,
vice-versa, tudo o que estes irmãos possuem é um dom para a Igreja e para a
humanidade inteira.
Amados irmãos e irmãs, como desejo
que os lugares onde a Igreja se manifesta, particularmente as nossas paróquias
e as nossas comunidades, se tornem ilhas de misericórdia no meio do mar da
indiferença!
Com estes votos, asseguro a minha oração por cada crente e
cada comunidade eclesial para que percorram, frutuosamente, o itinerário
quaresmal, enquanto, por minha vez, vos peço que rezeis por mim. Que o Senhor
vos abençoe e Nossa Senhora vos guarde!
Vaticano, Festa de São Francisco de
Assis,
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